terça-feira, 2 de outubro de 2007

" R.P.M "



O RPM (Revoluções por Minuto) é o grupo do rock brasileiro surgido em 1985, tendo sido um dos mais populares do país nos anos de 1986 e 1987. Foi um dos grupos mais bem sucedidos da história da música brasileira. Na segunda metade dos anos 80, conseguiram bater todos os recordes de vendagens da industria fonográfica brasileira. Seus criadores tinham um forte embasamento cultural e musical, o que foi fator determinante no tiro certo para o sucesso.
Tudo começou em 1976, em São Paulo, quando Paulo Ricardo namorava Eloá, que morava em frente à casa onde Luiz Schiavon ensaiava com May East. O casal resolveu um dia visitar os vizinhos, que estavam num ensaio crucial que decidiam entre cantar em inglês ou português. Paulo Ricardo deu seu voto, opinando pelas letras em português e assim conheceu Luiz Schiavon. Neste dia conversaram muito sobre música. Paulo estava começando sua carreira como crítico musical e Schiavon era um pianista clássico. Schiavon buscava um novo caminho, mais popular, mas sentiu dificuldade em encontrar alguém. Foi assim que Paulo recebeu o convite para integrar o "Aura", uma banda de jazz-rock que ainda tinha Paulinho Valenza na bateria. Depois de três anos de ensaios e nenhum show, Luiz encantou-se pela música eletrônica e pela tecnologia de novos sintetizadores, enquanto Paulo decidiu morar na Europa – primeiro na França e depois em Londres, de onde escrevia sobre novidades musicais para a revista Somtrês e se correspondia com freqüência com Schiavon. Este choque de personalidades impulsionou a criação do RPM depois que o trabalho da dupla foi retomado, já em São Paulo.
Juntos, criaram as primeiras canções. As primeiras foram "Olhar 43", "A Cruz e A Espada" e a música que batizara a banda que ali nascia: "Revoluções por Minuto". Gravaram uma fita demo destas músicas com uma bateria eletrônica e encaminharam à gravadora CBS que considerou-as ambíguas e difíceis de tocar nas rádios. O nome 45 RPM (45 rotações por minuto) foi sugerido inicialmente em uma lista de nomes feita por uma amiga. Schiavon e Paulo gostaram do nome, mas tiraram o 45 e mudaram o Rotações por Revoluções. Convidaram o guitarrista Fernando Deluqui (ex-Gang 90 May East) e o baterista Charles Gavin (ex-Ira!) para completar o grupo. Já batizados de RPM, conseguiram um contrato com a gravadora CBS, com o compacto de 1984, que viria com as faixas "Louras Geladas" (a música virou um hit das danceterias e das paradas de sucesso das rádios) e "Revoluções por Minuto" (que foi censurada na época). "Louras Geladas" caiu no gosto do público de todo o país e levou a banda a gravar o seu álbum de estréia, já com o baterista Paulo P.A. Pagni (ex-Patife Band), que entrou para o RPM como convidado, no meio da gravação do LP, o que explica a sua ausência na capa do disco "Revoluções Por Minuto". Charles Gavin havia saído do grupo para se integrar aos Titãs.


1985: Revoluções por Minuto

No mês de maio chega às lojas Revoluções Por Minuto, no vácuo de um país ainda perplexo com a morte de Tancredo Neves. O misto de paixão platônica e pretensa declaração de amor de "Olhar 43" emplaca nas rádios e abre caminho para que outras faixas, mais politizadas e/ou conceituais, façam o mesmo. As faixas do disco tratam também de temas como política internacional e transformações sócio-econômicas. Um elemento estranho são os climas soturnos dos arranjos de Luiz Schiavon – herança dos tempos londrinos do baixista, que viu o pós-punk britânico. O sucesso do álbum é tanto que o RPM emplaca rapidamente uma seqüência de hits no rádio (oito entre as onze faixas do álbum) e chega à marca de 100 mil LPs vendidos (disco de ouro). Revoluções por Minuto chegou a vender 300 mil cópias.

Faixas do disco: Rádio pirata / Olhar 43 / A cruz e a espada / Estação no inferno / A fúria do sexo frágil contra o dragão da maldade / Louras geladas / Liberdade-Guerra Fria / Sob a luz do sol / Juvenília / Pr'esse vício / Revoluções por minuto


1986: Rádio Pirata ao vivo

Logo depois dos primeiros shows de divulgação, o RPM fecha contrato com o megaempresário Manoel Poladian, que procurava uma banda em ascensão no rock brasileiro para o seu elenco de artistas platinados de MPB. Os costumeiros palcos das danceterias são trocados por uma megaprodução, com direito a Ney Matogrosso assinando luz e direção, canhões de raio laser e multidões espremidas em ginásios e estádios. À esta altura, Paulo Ricardo já é sex symbol: estampa diversas capas de revistas e enlouqece garotas histéricas.

Sem “futuros hits” na manga e para manter a banda em alta, Poladian, músicos e gravadora lançam em julho de 1986, um novo álbum, com parte do registro de dois shows da histórica turnê. O repertório de Rádio Pirata Ao Vivo traz quatro gravações inéditas (sendo duas covers) e cinco faixas de Revoluções Por Minuto. Com a ajuda dos preços congelados do Plano Cruzado, 500 mil cópias são vendidas antecipadamente. As vendas de Rádio Pirata Ao Vivo disparam e chegam a 2,2 milhões. O RPM transforma-se no maior vendedor da indústria fonográfica nacional até então.

As coisas ficaram tensas, no entanto, quando Paulo Ricardo passou a ser conhecido apenas como "sex symbol" e começou a ser procurado e visto por jornalistas e fãs como se fosse modelo e não músico.



Faixas do disco: Revoluções por minuto / Alvorada voraz / A cruz e a espada / Naja / Olhar 43 / Estação no inferno / London, London / Flores astrais / Rádio pirata


1987: A primeira separação

Mesmo com todo o sucesso no Brasil e em países como França e Portugal, o RPM que até teve um Globo Repórter Especial em 1986 e havia se tornado álbum de figurinhas, passava por uma situação difícil. Em junho de 1987, houve o lançamento oficial do mix em que se encontravam o grupo de rock de maior sucesso do Brasil - o RPM (mais de 3 milhões de cópias vendidas de seus dois LPs) e um dos monstros sagrados da moderna MPB - Milton Nascimento, o RPM & Milton. O fracasso do projeto RPM Discos, um selo próprio do grupo, acabou causando conflitos entre seus integrantes. Chegou-se a produzir um LP com o grupo paulista Cabine C, que prensado e distribuído pela RCA, não vendeu nem 20 mil cópias. Uma experiência em auto produzir videoclip também resultou em prejuízos. E o projeto de um longa-metragem foi a gota d'água para a separação do grupo: o cineasta Sérgio Rezende ("Até a Última Gota", "O Homem da Capa Preta", "O Sonho Acabou") trabalhou durante dois meses no roteiro, com Marcelo Rubens Paiva ("Feliz Ano Velho"), amigo e colega de escola de Paulo Ricardo, Fernanda Torres chegou a ser contratada para o filme que seria produzido por Luís Carlos Barreto. Uma produção destinada a ter, em 1987, o mesmo impacto up-to-date, que Richard Lester conseguiu com os Beatles no auge de sua fama ("Os Reis do Ié-Ié-Ié", "Help"), mas que não se concretizou. Em 1987 chegaram a anunciar a separação oficial do grupo.


1988: Quatro coiotes

O grupo retomou as atividades em 1988, com o álbum "RPM" (mais conhecido como Quatro coiotes), que saiu com uma tiragem inicial de 250 mil cópias. Na gravadora, o RPM ainda tinha destaque, pois chegara a empatar com Roberto Carlos em termos de vendagem, ainda a maior fonte de receita da mesma. Houve uma grande divulgação na época: em algumas rádios o disco chegou a ser executado por inteiro em sua programação.

Separados há mais de seis meses, a banda figurava aparentemente mais amadurecida, com um disco basicamente com base na percussão (do brasileiro Paulinho da Costa, radicado nos EUA há mais de 10 anos). Gravado entre novembro/87 a fevereiro/88, nos estúdios da Sigla em São Paulo e Light House, em Los Angeles, onde também foi mixado no sistema digital, com corte e masterização de profissionais dos mais competentes (Bernie Grundman Mastering), o RPM reúne nas dez faixas deste LP de retorno participações ilustres - como dos americanos Larry Williams e Dan Higins, nos sax; Jerry Hey, Gary Grant e Lanny Hall em trumpetes e, nas vozes, a competência de Siedah Garreth, Phyllips St. James e Maxi Anderson - o que se pode sentir especialmente em "Partners". Apesar de tudo, o som é estritamente alto, com o instrumental sobrepondo-se as letras (todas, exceto "Ponto de Fuga", de Paulo Ricardo). Não faltou erotismo como em "A Dália Negra" ou até uma pitada social em "O teu futuro espelha essa grandeza", com solo de cuíca e a participação pagodeira de Bezerra da Silva para uma letra que fala em poluição de praias, crianças abandonadas. Vendeu as 250 mil cópias, mas para os padrões do RPM, era o fracasso. Novamente o grupo se rompe.

Não se sabe a ocasião, mas o grupo ainda viria a realizar a regravação de "A página do relâmpago elétrico" de Ronaldo Bastos, em 1989.

Faixas do disco: Quatro coiotes / A dália negra / Um caso de amor assim / Ponto de fuga / Partners / A estratégia do caos / Sete mares / Quarto poder / O teu futuro espelha esta grandeza / Show it to me


2002: MTV RPM ao vivo

A partir daí, cada um seguiu seu caminho, seja em carreira solo, produzindo outros grupos ou até compondo para outros artistas. Permaneceram separados até 2001, quando resolveram se encontrar novamente para ensaiar, sem maiores pretensões, os antigos sucessos. Percebendo o entrosamento perfeito e a vontade de todos de estarem juntos novamente nos palcos, deram início ao retorno do RPM.


Após 12 anos em que cada um seguiu sozinho sua carreira, em 2001 Deluqui telefonou para o Schiavon convidando-o para assistir um show que ele faria em São Paulo. Schiavon desculpou-se dizendo que não poderia ir. Esse telefonema começou a acender uma saudade dos bons tempos. O tecladista ligou para Paulo Ricardo que estava no Rio de Janeiro, Paulo chamou Schiavon para conversar e assim decidiram que estava na hora de um retorno. Um dia passaram na casa de P.A. e foram para um ensaio informal, onde neste dia tocaram todas as músicas do RPM como se não tocassem juntos há uns três meses, resolveram mágoas do passado e chamaram novamente o "quinto coiote" para empresariá-los, Manoel Poladian.
Interessada no projeto, a MTV comprou a idéia e colocou-os novamente na mídia com o álbum "MTV RPM 2002", gravado ao vivo no teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, no mês de março de 2002. Um dos maiores destaques foi a inédita "Vida Real", tema do programa Big Brother, exibido pela Rede Globo.

Um outro ponto alto deste show é a belíssima "A Cruz e a Espada", que traz a participação de Renato Russo (em memória). Outra participação especial que há no show é a de Roberto Frejat, do Barão Vermelho, que toca guitarra na música "Exagerado", regravação que homenageia Cazuza.
Vendeu mais de 300 mil cópias do CD e 50 mil cópias do DVD.

Faixas do disco: Revoluções por minuto / Alvorada voraz / Juvenília / Sete mares / Fatal / Liberdade-Guerra Fria / London, London / A cruz e a espada / Exagerado / Vem pra mim / Carbono 14 / Sob a luz do sol / Rainha / Louras geladas / Rádio pirata / Vida real / Olhar 43 / Onde está o meu amor?


2003: Nova separação

O grupo, com o sucesso do projeto da MTV, começou então uma nova turnê por todo o Brasil, que não durou muito tempo. Especulações dizem que a banda se separou após os outros integrantes descobrirem que Paulo Ricardo havia registrado todos os direitos em seu nome, iniciando uma disputa judicial pela marca RPM. Outros dizem que houve divergências quanto ao som da banda, se seguia os anos 80 ou partia para algo mais moderno. Depois, Paulo Ricardo e o baterista Paulo (P.A.) Pagni formaram a banda PR5 (que foi um verdadeiro fracasso), enquanto Luiz Schiavon e Fernando Deluqui seguiram para projetos solo. Atualmente, Paulo Ricardo voltou a sua carreira solo, lançando em 2006 o CD e DVD Acoustic Live, com covers de classicos internacionais e, em 2007, o CD Prisma, com uma pegada pop rock com as faixas "Diz" e "A Chegada", contando com os membros do PR5 como músicos de apoio, inclusive o baterista Paulo (P.A.) Pagni. Luiz Schiavon atualmente dirige, junto com o músico Caçulinha, um grupo musical no programa Domingão do Faustão, da Rede Globo.


2007: A volta

Depois de muito som rolado e quatro anos passados, a banda anuncia o lançamento de uma caixa com os 3 primeiros albuns da banda e mais um CD com remixes, covers e faixas não lançadas, junto com um DVD com o show do disco Rádio Pirata - Ao Vivo, de 1986. Enquanto todos esperam o lançamento oficial, Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo (P.A.) Pagni já andam tocando juntos. Assim, inicia-se uma provavel volta da banda e o recomeço das revoluções por minuto...